quarta-feira, novembro 01, 2006

Entrei

Ela estava no meio da sala, os braços cruzados sobre o peito, as sobrancelhas franzidas, vestindo um vestido de cetim branco resplandecente como o dia e uma kazabaïka de cetim escarlate guarnecida de soberbo arminho. Nos seus cabelos empoados e brancos como a neve repousava um diadema de diamantes.

- Wanda!

Corri para ela, quis abraçá-la, beijá-la; ela recuou um passo e mediu-me de alto a baixo.

- Escravo!

- Senhora!

Ajoelhei-me e beijei a fímbria do seu vestido.

- Está bem.

- Oh como és bela!

- Agrado-te?

Dirigiu-se para o espelho e contemplou-se com altiva satisfação.

- Enlouqueço!

Ela agitou desdenhosamente o lábio inferior e olhou-me com escárnio através das pálpebras semicerradas.

- Dá-me o chicote.

Olhei à volta.

- Não, exclamou ela, fica de joelhos!

Dirigiu-se à chaminé, agarrou no chicote e olhando-me a rir, fê-lo assobiar no ar, depois ergueu lentamente as mangas da jaqueta.

- Admirável mulher! Exclamei.

- Cala-te, escravo!

De repente o seu olhar tomou um ar sombrio, mesmo selvagem e chicoteou-me; um momento depois pousou-me delicadamente o braço à volta da nuca e inclinou-se para mim com paixão.

(in A Vénus de Kazabaïka de Leopold Von Sacher-Masoch, Relógio d’ Água, 1994)

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