sexta-feira, setembro 15, 2006

A Caixa

A campainha finalmente despertou, a minha Senhora estava prestes a entrar. Ainda não a tinha visto, mas os sons dos passos dela, deixavam adivinhar umas botas de salto alto e fino. Ao abrir a porta, reparo num casaco comprido de cabedal. Com o cinto apertado ninguém adivinhava o que ela trazia vestido. O modo como ela entrava na minha casa deixava-me fascinado. A Senhora versava a arte de tornar seu, aquilo que tocava. Aparentemente, sentia-se sempre bem em qualquer lugar e circunstâncias. Só quando ela já estava dentro da minha casa, reparei na mochila que trazia às costas. Com um olhar indica-me o meu primeiro trabalho. A nossa relação ainda era fresquinha mas já tínhamos os nossos códigos. Rapidamente retiro a mochila e depois o casaco comprido. Ela continuava imperial, mas agora com o corpete, as calças de cabedal e as botas de cano alto, nada parece conseguir deter esta mulher. Era sempre assim, ela escolhia o ritmo e as paisagens que iríamos percorrer.

Enquanto Ela repousava e me observava, eu abria a mala e espalhava, na entrada da sala, os vários objectos que ela continha: cordas, paddle, velas, uma venda, um pano, uma chibata e uma caixa por abrir. Entreguei imediatamente a chibata à minha Dona. Mas obviamente o meu pensamento estava naquela caixa. Ela sabia que a curiosidade desperta os meus maiores desejos de submissão.

Talvez por isso, na sua primeira ordem verbal exigiu que eu lhe desse a caixa. Eu aproveitei para a balançar, na esperança de saber o que havia lá dentro, mas nada aconteceu. A minha Senhora, contudo, percebeu a minha curiosidade exagerada e decidiu dar-me ali o seu primeiro castigo:

- Estende as mãos, escravo. – Quando me castigava chamava-me sempre assim.

Eu estendi e rapidamente a chibata tomou conta das palmas das minhas mãos. No fim, comigo de joelhos e, com a chibata encostada ao meu rosto, disse:

- Eu hoje estou particularmente kinky, não vais precisar de fazer asneiras para receberes uma dose apreciável de “prazer”.

Na posse dessa caixa ela revela-me então uma parte do mistério:

- Nesta caixa estão dois objectos. Cada um simboliza a tua submissão por mim, mas cada um irá proporcionar-te viagens diferentes. Para o abrires terás de te sujeitar às minhas ordens.

Imediatamente, respondo-lhe:

- Como sempre, Senhora.

- Vou derramar cera numa região do teu corpo, de tal forma, que esta fique completamente coberta de cera. Não quero ouvir lamentos da tua parte, eu aprecio que os meus submissos aguentem a dor em silêncio.

E então inclina-se sobre mim e diz-me ao ouvido:

- Assim, os teus gritos serão mais raros e, por isso mesmo, mais preciosos. Hoje apetece-me brincar com as tuas nádegas.

Na noite anterior, a minha Senhora tinha tido o cuidado de me depilar completamente. Com a chibata ela indica-me que devo baixar a minha cabeça ao nível do soalho. As minhas nádegas ficam espetadas para cima. Acende duas velas e lentamente os pingos de cera começam a atingir as minhas nádegas. Começa por se divertir desenhando-me padrões circulares nelas. Eu não as via, mas a minha mente realizava o desenho que o ardor, causado pela cera quente, proporcionava.

Depois de algum tempo a minha Senhora decide pousar uma das velas e começa a acariciar as minhas costas. Finaliza com uma palmada nestas e ordena-me que vá buscar uma terceira vela.

Esta terceira vela é colocada entre as minhas nádegas. Mas com o pavio voltado para baixo, começando rapidamente a pingar no meu pénis e testículos. A dor era agora muito maior e uma nova chibatada vem marcar as minhas costas.

- Não te movas, assim não posso acabar a minha pintura. – Diz-me com o humor que a caracteriza.

Nos nossos tempos livres aproveitávamos para criar objectos que nos ajudavam nas nossas prática BDSM. Um dos nossos últimos trabalhos consistiu num apetrecho que permite segurar as velas, mas mantendo-as a pingar cera onde se quisesse. A Senhora aproveita para ir buscar as cordas.

O bondage era uma das suas actividades preferidas e isso notava-se no modo como tratava as cordas. Rapidamente os meus tornozelos ficam atados. Tira depois uma das velas do repouso e, enquanto me segreda ao ouvido, deixa cair pingos de cera nas costas das minhas mãos.

- O que querias que eu te fizesse, se fosses tu a decidir?

Eu digo-lhe que gostava que a chibata fosse muito utilizada esta noite.

Ela sorri e diz-me:

- Já sabes que eu adoro contrariar-te. - Diz isso com um sorriso particularmente malvado.

- Eu sei. - Respondo eu.

Então porque disseste? - Pergunta ela.

- Porque - respondo eu - tenho esperanças que a escolha acertada nos objectos da caixa me permita satisfazer a minha fantasia.

Ela ri-se.

Eu percebo que estou longe da verdade. O que estará na caixa?

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