sábado, fevereiro 17, 2007

A massagem...

O documentário de Túlio Bambino vai ser exibido hoje na Mostra do Filme Livre do Rio de Janeiro, numa sessão dedicada a filmes de temática sexual. Só o filme deste realizador está relacionado com o universo BDSM. Retirei esta imagem do filme:

Receber uma massagem nos pés não é um privilégio a que só acedem as Dommes. Haverá alguma mulher que não goste de receber uma boa massagem? Mesmo numa relação baunilha a massagem dos pés é – ou deveria ser – um bom momento a dois. Então o que distingue este acto quando é praticado numa relação FemDom? Arriscaria a dizer que nada. Na verdade, o homem que decide massajar a sua companheira está a realizar aquilo que um submisso procura fazer: dar prazer à sua companheira. Seja ou não submisso o homem tem de se esmerar. Pode-se dizer que numa relação FemDom é a Domme que ordena que lhe seja feita uma massagem nos pés. Mas será mesmo necessário? A massagem pode ficar instituída como uma das tarefas que o submisso terá de realizar sem ter uma ordem expressa.

Mais do que rótulos o que conta é a intensidade e o prazer com que os dois partilham este gesto. Claro que numa relação baunilha o homem dificilmente irá pedir que a massagem seja apenas o primeiro passo num caminho de devoção e submissão. E será que a Domme vai massajar os pés do submisso? Talvez o faça com os saltos altos :p

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domingo, fevereiro 11, 2007

Vitória!

Depois da desilusão de 1998 este dia 11 de Fevereiro tem um sabor especial. A vitória do sim mostra como a lei que tínhamos já não servia a esta sociedade.

Os julgamentos nos tribunais de Aveiro, Maia e de Setúbal das mulheres que abortaram foram na minha opinião decisivos. O “não” começou a perder votos quando as imagens destes julgamentos passaram na televisão. As pessoas perceberam que esta possibilidade estava na lei e que, se se mantivesse, qualquer mulher poderia estar dependente da bondade e da esmola da justiça. Se esta não fosse benevolente poderia mesmo haver condenação. Os defensores do “não” disseram que nenhuma mulher foi presa. O simples facto de uma mulher poder ir a julgamento já é mau demais! E o pior é que, apesar de não estar nenhuma mulher na prisão, algumas foram mesmo condenadas. Isso é inadmissível e quase 60% dos votantes perceberam-no e deram esta vitória inequívoca ao “sim”.

O “não” também perdeu porque alguns dos seus defensores não conseguiram perder o toque radical de 1998. É bom lembrar que um dos partidários do “não”, Bagão Félix, defendeu que a pena de prisão poderia ser substituída por trabalho comunitário. Isto é tão absurdo que nem merece comentários. Felizmente do lado do “sim” evitou-se os radicalismos e os resultados foram os desejados.

Apesar da abstenção ter sido superior ao número de votantes, a percentagem de votos foi muito superior a 1998 e de certo modo o referendo sai mais consolidado. O resultado pode não ser vinculativo mas, em consequência deste, a lei vai mudar e naturalmente o referendo vai ser encarado de outro modo. Estamos sempre a reclamar do estado do país e o referendo é uma excelente oportunidade para contribuir para a construção e mudança deste.

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quarta-feira, fevereiro 07, 2007

A criação dum ser humano

Foi publicado no Público de hoje um artigo de opinião de Teresa Joaquim, autora de “Cuidar dos outros, cuidar de si. Questões em torno da Maternidade”, que transcrevo a seguir:

“A identificação da maternidade com a reprodução biológica nega que o mais importante na reprodução humana não é o processo de concepção e gestação, mas a tarefa social, cultural, simbólica e ética de tornar possível a criação de um novo sujeito humano”

(S. Tubert, 1996: 10-11)

Julgo que esta citação diz o que tem estado em jogo na argumentação que tem sido utilizada no contexto da discussão sobre o aborto. Há nesta discussão uma questão recalcada na sociedade portuguesa, a saber, o silêncio, o esquecimento da maternidade, como se até aqui a abordagem realizada fosse atravessada pelo não-dito do que é a maternidade: “[...] esquecimento de que as crianças não são só feitas de carne mas, em certa medida, de desejos, palavras, sonhos, mitos e lendas” (Tubert, 1996), de carne e de alimento, de imaginário e de cultura; de cada vez que se discute esta questão, discute-se a sua transmissão para que algo continue, a sociedade sobreviva.

(…)

Discutir as questões da maternidade (e da paternidade) é, de certo modo, discutir e questionar o modo como se habita a cidade. Como se constrói uma cidadania social e política. Como vivemos uns com os outros. Porque o que está em causa é:

- como dar à luz outros seres no sentido de lhes dar uma vida humana, digna?

- qual é a responsabilidade ética de uma comunidade para que um recém-nascido se torne um ser humano capaz de prometer?

- qual é o próprio fundamento da comunidade, se não esse acto originário que é o nascer?

Nos primórdios da cultura ocidental - nomeadamente na cultura grega - aparece a definição de mulher pela reprodução, pela capacidade que ela tem de dar à luz crianças. A questão não é tanto que as mulheres sejam definidas a partir de um dos pólos da dicotomia natureza/cultura, é sobretudo a desvalorização daquele pólo tanto social como politicamente, como se elas fossem incapazes de transcender essa esfera do corpo, das emoções, dos sentidos, essa capacidade de fazer corpos, quando simultaneamente se lhes pede que elas sejam capazes de uma longa duração, aquela em que um ser inacabado, dependente, in-fans, irá construindo a sua autonomia, a sua independência, a sua fala própria, tornar-se sujeito, capaz de razão.

O modo como o corpo das mulheres foi lido na cultura ocidental permite compreender como as implicações que as leituras, filosóficas e médicas, do corpo da mulher pesaram, e ainda pesam, sobre as possibilidades de vida das mulheres, tendo em conta nomeadamente outras faces bem conhecidas e marcantes nesta história, nas quais as mulheres foram exaltadas (e redimidas das anteriores leituras sobre o seu corpo) por essa capacidade de dar à luz outros seres: de certo modo, muitas das exclusões não são senão a outra face da exaltação da maternidade, a ser compreendida num contexto de altas taxas de mortalidade materna e infantil.

Imagens contraditórias da exaltação da maternidade e do seu peso determinante na construção da identidade feminina, na qual a valorização da virgindade era um elemento importante, estruturante do modelo proposto, simultaneamente às mulheres e às mães. É no caleidoscópio destas imagens que aparentemente se apresentam como antagónicas da mulher, mãe, pureza, impureza, virgindade, maternidade, que se construiu um modelo de feminilidade problemático (e por vezes contraditório). Imagens que ainda hoje persistem sobre as mulheres. Ditas, claro, e expressas de modo diverso (e mesmo aparentemente já esquecidas), mas que, em momentos de controvérsia em torno da maternidade (e da sua face obscura, o aborto), nesses momentos também eles contraditórios, tais imagens aparecem ainda vivazes.

(…)

Neste sentido, hoje, seriam precisos novos conceitos para pensar a maternidade (e a paternidade); o que pode significar, nomeadamente para uma mulher na nossa cultura, a maternidade do ponto de vista simbólico? Como inscrever nessa cultura a questão central do reconhecimento do outro, da relação com o outro que se inicia (ou não) antes do parto: esse “diálogo silencioso no espaço comum do corpo materno”, essa condição de habitação? Ou a dificuldade de pensar o que significa nascer de um corpo de mulher.

(…)

O nascimento é a “aparição de um ser para a vida”. Essa aparição só pode acontecer se as mulheres puderem ter hoje a capacidade e a possibilidade de “serem mães não só de corpos mas de significados sociais”, o que significa não estar ausente dos próprios fundamentos da comunidade humana; ser não só sujeito e “lugar” de reprodução biológica, terra que acolhe uma semente, mas também ser-lhe reconhecida essa “tarefa social, cultural, simbólica e ética” necessária à criação de um novo ser humano. É uma tarefa imensa e, por isso, não penso que se possa “obrigar” uma mulher a esse acto de criação.

Este artigo, e em particular o último paragrafo, é demolidor para todos os partidários do “não”. A educação é fundamental para qualquer ser humano. As nossas opiniões, desejos e memórias são aquilo que nos torna únicos. Nada disto está presente no embrião. Da fragilidade do bebé até ao individuo que se bate pelos seus ideais muito irá mudar. Será que a edificação de um ser estruturado pode começar com pais desinteressados e mesmo relutantes em aceitar o seu novo filho? A maternidade deve ocorrer apenas quando a mulher a coloca na sua lista de prioridades. O recém-nascido deve ser visto e sentido como uma bênção e não como um empecilho.

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quinta-feira, fevereiro 01, 2007

Elise Sutton: Female Domination #5

The human temperament has been broken down into sixteen categories under four distinctive types, Sanguine, Choleric, Melancholy and Phlegmatic. The Sanguine is an extrovert, a talker and an optimist. They are emotional, demonstrative, enthusiastic, expressive and loud. Likewise, a Choleric is decisive, strong-willed, and bossy. It has been thought that a person who is a Sanguine or a Choleric would gravitate toward the dominant role within personal relationships. It has also been assumed that a Melancholy and a Phlegmatic would gravitate toward the submissive role. A Melancholy is a person who is an introvert, a thinker and a pessimist. A Melancholy is analytical, creative, sensitive, selfsacrificing, and usually has a low self-image. A Phlegmatic is also an introvert and is easy-going, relaxed, quiet, indecisive and tends to be shy.

From my years of counselling and interviewing submissive men, it has been rather obvious that the male desire to be in submission to the female gender has very little to do with temperament. There are submissive men who are introverted, shy and passive and there are submissive men who are aggressive, outgoing and extroverts. The male

desire to submit to the female cannot be over analyzed. Some have tried to explain the popularity of the professional Dominant woman (a.k.a. the Dominatrix) as being a way for the aggressive businessman to obtain balance in his life. It has been said by some who have examined the phenomenon of the D&S lifestyle that D&S attracts men of power and of a “Type A” personality because FemDom gives these alpha male types a chance to be on the receiving end of aggression and power instead of being on the giving end. In other words, Female Domination gives the macho male an avenue to find balance.

Then there are those who have claimed that FemDom attracts men who have a low self-image because they harbour a secret desire to be abused. Some in the field of Psychology believe that the Melancholy is most likely to develop masochistic desires. These two theories contradict each other. If FemDom primarily attracts shy and insecure males, then why do so many aggressive and extrovert males also desire to be dominated by a woman?

Just as a man’s temperament cannot be used to determine the source of his submissive desires, a woman’s temperament cannot be used to measure her potential to be dominant. Women who are Melancholy or Phlegmatic are just as capable of being Dominant as women who are out-going. Dominance is primarily an attitude. It is an inner nature and it is authoritative. Out-going and aggressive women are more easily turned on to Female Domination but they do not necessarily make the best Dominants. Some of the most dominant and authoritative women that I know are very laid back and quiet. They dominate more with their aura and their self-confidence than they do with strong outward personality traits. One woman I know rarely raises her voice when she dominates a man but she has the most intense stare and controlling aura about her that men crumble in her presence. She believes that she is superior to men and she walks with that confidence and that authority.

pp. 83-84

O prazer que algumas pessoas tiram de uma relação BDSM é visto, do exterior, frequentemente como uma excentricidade ou mesmo resultado de algum desequilíbrio interno. No caso particular, da vertente FemDom, imaginam uma Domme como alguém totalmente inflexível, incapaz de pedir desculpa. Já o submisso é visto como um ser que pede desculpa por existir e sem capacidade de decidir sozinho. Com um imaginário assim talvez seja fácil explicar a razão de tantos verem os praticantes de BDSM como seres doentios, ou no mínimo, pouco criativos.

Mas será que uma Domme quer realmente um submisso tão dócil? Ao ponto deste se tornar aborrecido? E será que um submisso conseguirá manter uma relação onde sabe que nunca terá razão?

Obviamente que não e este excerto do livro de Elise Sutton não deixa margem para dúvidas! O BDSM surge como algo mais profundo, definidor do próprio ser que abraça a dominação feminina. Não se trata de estar sempre nu e acorrentado, esperando a Senhora. É tão somente saberem ambos que ele esta a pensar na sua Senhora, que deseja superar todas as dificuldades ou restrições, para lhe poder oferecer algo que mostre a sua devoção. Roupas? Acessórios? Talvez, mas um poema dedicado à Senhora pode ser muito mais importante. O que conta é ambos sentirem que há uma simbiose que os estimula a continuar, a querer sempre mais. Em vez da rotina e da estagnação, a Senhora e o submisso ambicionam explorar a mente e o corpo de ambos muito para alem das inibições habituais. Precisam um do outro para se construírem mutuamente. E isso vai muito para além de umas chibatadas... apesar destas serem sempre bem-vindas ;)

Um amigo meu – um dos poucos que conhece esta minha vertente – disse-me que, pelo que percebia, quem se movimenta nesta comunidade não conseguia pura e simplesmente viver sem esta componente. Era fulcral para a construção da própria identidade. Não disse isso como se se tratasse de algo coercivo ou limitativo. O prazer que um submisso tem em satisfazer um capricho à sua Senhora não implica que este diga sempre que sim. O submisso tem a obrigação de se defender quando considerar que os seus valores não estão a ser respeitados. Acima de tudo uma relação BDSM é para seres genuínos, onde não há espaço para a falsidade. A entrega do submisso só faz sentido enquanto este tiver tanto prazer nisso, quanto a Senhora. Fiquei a olhar para ele. Ao contrário da maior parte das pessoas que são exteriores ao BDSM, ele tinha compreendido a essência, aquilo que realmente move quem navega por estas bandas.

Elise Sutton: Female Domination #4

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